Na última terça-feira (30), a servidora mais antiga do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), Maria Thereza Santos Miranda, visitou a instituição em que trabalhou por cerca de 23 anos. Ela foi recebida pelo presidente do TRE-PR, desembargador Sigurd Roberto Bengtsson, em seu gabinete; pelo vice-presidente e corregedor do Tribunal, desembargador Luiz Osório Moraes Panza; pela diretora-geral, Solange Maria Vieira; pelo secretário de Comunicação e Multimídia, Willian Gallera Garcia; por servidores e colaboradores da Comunicação e da Seção de Gestão Documental, Memória Institucional e Biblioteca.

Os passos firmes e a postura imponente ainda representam o pioneirismo de quem caminhou à frente de seu tempo. Maria Thereza Santos Miranda começou a trabalhar na Justiça Eleitoral em 1° de dezembro de 1948, cerca de 17 anos antes do voto feminino se tornar obrigatório no Brasil, independentemente de ocupação. Atualmente, aos 101 anos de idade, ela é a servidora mais antiga do TRE-PR.

Antes mesmo de entrar para o quadro de funcionários da Justiça Eleitoral do Paraná, ainda enquanto professora primária na Escola Pública República Oriental do Uruguai, dona Maria Thereza já fazia questão de votar, direito que procura exercer até hoje, a cada nova eleição. 

Ela reconhece o poder da democracia. Apenas três anos antes de ser empossada como servidora, o país ainda vivia em um cenário de ditadura, durante o Estado Novo. Em 1945, a Justiça Eleitoral foi reinstalada, mas à época o TRE-PR sequer possuía quadro de servidores e sede próprios. “Comecei quando começou o Tribunal”, enfatiza.

Seu termo de posse, em 1948, foi escrito à mão, em uma época em que as máquinas de escrever ainda eram consideradas itens da mais alta tecnologia pela maioria da população. No documento, há o registro de que a “Srta. Maria Thereza Santos de Miranda” deveria “prestar a promessa legal para exercer o cargo de datilógrafo padrão ‘G’”. A cerimônia aconteceu no Gabinete da Presidência, na sede do TRE-PR localizada na Praça Carlos Gomes, com a presença do então presidente do Tribunal, desembargador Manoel Lacerda Pinto.

Durante seus cerca de 23 anos de atuação na Justiça Eleitoral do Paraná, dona Maria Thereza atuou na área judiciária. Segundo ela, sua função consistia em “bater” os acórdãos para irem para o Diário Oficial. “Trabalhei bastante, era de manhã, de tarde e de noite. Não tinha hora, mas era bom”, lembra. “Nas eleições a gente era muito paparicada”, conta com um largo sorriso. Naquele período, a votação era realizada em urnas de madeira, que eram pesadas e de difícil armazenamento, manuseio e transporte. Os votos eram depositados por uma abertura na parte superior e retirados por uma portinhola com fechadura. A partir de 1955, começaram a ser utilizadas as urnas de lona.

Clique na linha do tempo abaixo para conferir a história da dona Maria Thereza:

Ao todo, enquanto foi servidora, acompanhou a gestão de 15 presidentes do TRE-PR, com os mandatos dos desembargadores Manoel Lacerda Pinto (1948), Cid Campelo (1949), Francisco Cunha Pereira (1951, 1961 e 1964), Eduardo Xavier da Veiga (1955), Antonio Franco Ferreira da Costa (1956), Segismundo Gradowski (1959), Lauro Fabrício de Melo Pinto (1959 a 1964), Francisco de Paula Xavier Filho (1964), Isidoro João Brzezinski (1965), Jairo Campos (1966), Henrique Nogueira Dorfmund (1968), Alberto de Carvalho Seixas (1970), Alcino de Carvalho e Souza (1970), Vatel Gonçalves Pereira (1970) e Julio Ribeiro de Campos (1970).

Também viu de perto a luta feminina pelos direitos democráticos e pela ocupação dos espaços de poder. Nos anos 60 e 70, foram lançadas diversas campanhas de incentivo  à participação das eleitoras no pleito. O Código Eleitoral de 1965, vigente até hoje, tornou obrigatório o voto de todas as mulheres alfabetizadas.

Em 1971, com 48 anos de idade, dona Maria Thereza se aposentou. À época, a sede do TRE-PR ocupava o prédio do antigo Palácio do Governo do Estado, na Praça João Cândido (onde hoje é o Museu Paranaense). “Sinto saudade, muita gente que trabalhava no Tribunal já não está mais aqui junto. Foi uma época boa para mim”, concluiu a senhora de rosto rosado e cabelos inteiramente brancos. 

Atualmente, ela reside em um apartamento na rua Desembargador Motta, próximo ao centro da cidade. Mora sozinha, mas recebe visitas frequentes de sua sobrinha, Maria Amélia Malachini, a pessoa mais próxima de sua convivência. 

O segredo para a longevidade? Segundo dona Maria Thereza, é trabalhar muito. Maria Amélia, no entanto, palpita, em tom de brincadeira, que tem a ver com o fato de que ela não casou, não teve filhos e continua ingerindo pequenas doses diárias de vinho e cerveja.

Arte: Assistência de Comunicação Visual
Matéria produzida em colaboração com a Seção de Gestão Documental, Memória Institucional e Biblioteca



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